A nossa empresa, apesar de pequena para o setor dos supermercados, já tinha alguns números de empresa grande. Isso sentia-se particularmente na informática. Tudo o que necessitávamos implicava grandes investimentos. Assim, algumas coisas decidi começar a fazê-las eu. Aprendi a mexer em Access e desenvolvi um pequeno programa de tratamento da informação de vendas e outros dados.

Até aqui parece tudo bem, certo?

A informática na empresa trazia-me outra vantagem. Aquilo que na psicologia chamamos de ganho secundário. Enquanto estava ocupado com coisas destas não estava a fazer o meu trabalho. Não estava a cumprir a minha função de liderar a empresa. Melhor ainda, podia mostrar serviço, obra, coisas feitas. Dizer, aquilo fui eu que fiz. Tudo coisas que a liderança da empresa não me permitia.

A transição de funções de executante para as de decisor, de líder tem por vezes esse lado inesperado. Não é tão fácil ver o volume de trabalho que se fez. Passa-se a trabalhar mais a resolver problemas do que a despachar serviço.

Por outro lado, eu estava com dificuldades em perceber o que devia fazer e sentia-me assoberbado com a imensidão das minhas responsabilidades. Tudo isto agravado com o facto da empresa não estar a evoluir da forma como tínhamos imaginado. Sentia uma angústia permanente e o receio de fazer mal. Estava assustado.

Por tudo isso, refugiei-me numa tarefa que sabia que dominava. Era mais seguro. Ali sabia com o que contava e conseguia fazer bem feito. Ignorei o que deveria estar a fazer e fui para algo onde não tinha medo de falhar com a vantagem de reduzir a minha sensação de culpa por não estar a fazer o que devia. Eu estava ocupado.

Eu sabia muito bem que a minha liderança, se bem feita, era muito mais importante do que o trabalhinho que arranjei como informático, mas estava empenhado em não ver.

É para isto que o coaching muitas vezes serve. Para nos ajudar a olhar para onde não queremos. Para ajudar a enfrentar o medo e levar a fazer o que é necessário e não o que é mais confortável.